VEJA TAMBEM HIV-O vírus da imunodeficiência humana (VIH), também conhecido por HIV (sigla em inglês para human imunodeficiency virus

Ciclo do vírus da polio

O vírus da polio

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Poliovirus, imagem 3D
David Belnap/Brigham Young University e
­­James Hogle/Harvard Medical School

Imagem 3D do poliovirus
A p­oliomielite é uma doença causada pelo poliovirus, que é um virus formado por uma cadeia simples de RNA do gênero Enterovírus, da família Picornaviridae. Tem três sorotipos - 1, 2 e 3 - e mede de 24-30 nm de diâmetro. Os três sorotipos do poliovírus chamados de 1, 2 e 3 provocam a poliomielite. O poliovirus tipo 1 é o isolado com maior freqüência nos casos com paralisia, seguido do tipo 3. O sorotipo 2 apresenta maior imunogenicidade, seguido pelos sorotipos 1 e 3. A imunidade é específica para cada sorotipo.
O poliovirus é um virus com alta infectividade, ou seja, ele rapidamente penetra no corpo do hospedeiro (doente) e se multiplica em 100% dos casos. Mas somente de 0,1% a 2,0% dos infectados desenvolvem a forma paralítica da doença (1:50 a 1:1000). Isso significa que a capacidade do vírus de causar uma forma importante (com paralisia) da doença é pequena. A gravidade da doença é maior quando o vírus contamina adolescentes ou adultos.
A letalidade da poliomielite varia entre 2% e 10%, mas pode ser bem mais elevada dependendo da forma clínica da doença. A poliomielite bulbar (atinge o bulbo, uma das partes do tronco cerebral) apresenta uma letalidade entre 20% e 60%, e a poliomielite espinhal, com acometimento respiratório, entre 20% e 40%. Em imunodeficientes chega a 40%, sendo muito freqüente o aparecimento de seqüelas.
O reservatório do vírus na natureza é o homem. A transmissão pode ser direta,  de pessoa a pessoa, por meio de secreções de nariz e faringe de pessoas (tosse, espirro) com a infecção. Pode ocorrer a transmissão indireta, por alimentos, água ou objetos contaminados. A transmissão era mais freqüente em ambientes cheios de crianças com más condições de higiene. O período de incubação da doença é de 7-12 dias.
 Na pessoa infectada, a transmissão do vírus pela orofaringe dura uma semana e pelas fezes por até seis semanas. O período de transmissão acontece geralmente antes das manifestações clínicas da doença quando a pessoa não sabe que está contaminada.
Em países de clima temperado, verifica-se incidência maior no verão e princípio do outono. Nos países de clima tropical, a distribuição dos casos é uniforme durante todo o ano. A transmissão é potencialmente mais intensa em áreas urbanas densamente povoadas, mas também ocorre em áreas rurais.

Sinais e sintomas da poliomielite

­Os primeiros sintomas da contaminação pelo vírus da polio podem aparecer de 10 a 12 dias após o contágio. A quadro clínico da poliomielite inclui febre e alterações gastrointestinais, como diarréia. Nos casos mais graves pode aparecer rigidez de nuca, reflexos tendíneos inicialmente hiperativos e que posteriormente são abolidos (quando a doença causa a paralisia). A sensibilidade é mantida. Geralmente a doença atinge os membros inferiores, e o comprometimento é assimétrico.
A doença é mais grave quando lesa os núcleos motores dos pares cranianos e atinge as áreas do sistema nervoso responsáveis pelo comando da respiração. Quando maior o comprometimento do sistema nervoso, maior a gravidade do quadro. Nas pessoas com a doença, a paralisia pode se intalar e não regredir, enquanto nos casos mais leves há recuperação parcial ou total.
Atualmente, é muito importante confirmar a doença nos casos suspeitos. O diagnóstico laboratorial da poliomielite objetiva o isolamento do vírus e do seu sorotipo. Como o poliovirus selvagem foi erradicado do continente americano, os casos suspeitos têm que ser rigorosamente investigados. Os exames que ajudam no diagnóstico são:
  • quimiocitológico do líquor,
  • detecção de anticorpos da classe IgM, e
  • eletroneuromiografia.
Todas as doenças que podem dar um quadro clínico semelhante ao da poliomielite têm que ser afastadas (diagnóstico diferencial).

O diagnóstico final é feito pelo isolamento e identificação do vírus nas fezes, preferencialmente nas primeiras duas semanas após a instalação da paralisia. A amostra pode ser colhida por meio de esfregaço da mucosa do ânus. As fezes devem ser conservadas entre +2º e +8ºC, até três dias, e após, em freezer a uma tempratura de  –20º ou –70ºC. O isolamento do vírus também pode ser feito do sangue, orofaringe e líquor, embora em menor porcentagem do que nas fezes. Nos casos de óbito, podem ser coletados tecidos do sistema nervoso central para posterior isolamento do virus.
O diagnóstico sorológico pode ser feito coletando-se duas amostras de sangue, uma na fase aguda e outra na de convalescença; para confirmação da infecção, o título de anticorpos deve aumentar em quatro vezes.
­Veja na próxima página qual é o tratamento para a poliomielite.

Tratamento da poliomielite

­­Como acontece em muitas doenças por vírus, não há tratamento específico, somente cuidados gerais, como repouso rigoroso nos primeiros dias, o que reduz o risco de paralisias. Deve-se tratar a dor e a febre e as complicações que surgirem.





Franklin Delano Roosevelt
Franklin Delano Roosevelt, presidente­
dos EUA de 1933 a 1945,
­­foi a vítima mais famosa da poliomielite
A complicação mais grave da poliomielite e que causava a morte era o comprometimento do sistema nervoso na região do bulbo e da medula responsáveis pela respiração. O acometimento desses centros levava à paralisia da musculatura respiratória e morte.
A solução veio com a invenção do pulmão de aço, um aparelho de ventilação que funcionava com pressão positiva externa que permitia às crianças continuarem respirando. Muitas crianças cresceram ligadas ao pulmão de aço e permaneceram ligadas a eles por décadas até a morte - em geral por infecções respiratórias.
A vítima mais famosa da poliomielite foi o presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt que governou o país por quatro mandatos de 1933 a 1945.



A situação da poliomielite no Brasil

­­A poliomielite foi considerada erradicada no mundo e no Brasil em 1994, 19 anos depois de  a epidemiologia da poliomielite ter começado a ser estudada no Brasil. Até a década de 1980, como a cobertura vacinal era muito baixa, a poliomielite era muito freqüente no país (em torno de 2.300 casos por ano). A partir de 1980, o Brasil passou a utilizar a estratégia das campanhas de vacinação com mudança desse quadro. O número de casos confirmados começou a cair muito acentuadamente a partir do início da década de 80 chegando a 45 casos notificados, em 1983. A mortalidade também caiu bastante e a letalidade (número de casos que morreram entre todos os que apresentaram a doença) ficou em torno de 14%.­






Campanha de vacinação contra a poliomielite em Ribeirão Preto­
Ministério da Saúde/Divulgação
Dia nacional de vacinação contra a poliomielite no Rio de Janeiro
­­Em 1986 ocorreu uma epidemia de poliomielite pelo poliovírus tipo 3 na Região Nordeste. A investigação epidemiológica mostrou que o problema estava na vacina contra o sorotipo 3 utilizada na época e que não fornecia proteção suficiente contra esse sorotipo. A vacina foi modificada com aumento da sua eficácia. A partir desse ano o objetivo foi o de erradicar a transmissão autóctone do poliovírus selvagem no país como já havia acontecido em outros países.  A última vez que o poliovírus selvagem foi isolado no país foi em março de 1989.
As grandes campanhas de vacinação no Brasil são feitas com a vacina Sabin que também faz parte do calendário básico de vacinação das crianças no país. O esquema preconizado consta de:
  •  três doses básicas, no segundo, no quarto e no sexto mês de vida,
  • um reforço seis a doze meses após a terceira dose e
  • outro aos cinco ou seis anos de idade.
A vacina utilizada é a vacina oral de vírus vivo atenuado, contendo os três sorotipos do poliovirus. A vacinação de indivíduos imunodeprimidos deve ser feita com a vacina de vírus inativado.





Cartaz de campanha de vacinação contra a polio
Prefeitura de São Paulo/Divulgação
Campanha de vacinação contro a polio
Complementando a vacinação de rotina, o Ministério da Saúde promove anualmente, desde 1980, dias nacionais de vacinação contra a poliomielite, vacinando as crianças menores de 5 anos, independente das doses anteriores, objetivando, além do aumento da cobertura, a disseminação do vírus vacinal na comunidade. Notificação de casos
Qualquer caso suspeito de poliomelite deve ser notificado, imediatamente, ao serviço de Vigilância Epidemiológica da região onde o paciente foi atendido ou à Central de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde (telefone 0800 55 54 66). Isso inclui todos os casos de paralisia flácida aguda em menores de 15 anos e, em pessoas de qualquer idade, quando a suspeita diagnóstica for poliomielite.
Deve-se fazer uma investigação cuidadosa junto aos familiares com o objetivo de levantar dados da história, sinais e sintomas iniciais, antecedentes de vacinação e evolução do caso. É fundamental obter informações referentes a contato com casos semelhantes e a viagens realizadas nos últimos 30 dias antes da instalação da paralisia. Há risco de reintrodução do poliovírus selvagem, devido à ocorrência de casos em países com grande fluxo migratório para o Brasil, por isso há necessidade de investigação de casos suspeitos de pessoas vindas de paises onde a poliomielite não foi erradicada.
Cuidados
­A vacina Sabin não deve ser administrada aos indivíduos com imunodepressão grave, pois há relatos de disseminação do poliovírus atenuado podendo levar à instalação de paralisia até 6 meses após a administração da vacina oral.
Indivíduos normais podem excretar o poliovírus atenuado em suas fezes até 4 a 6 semanas após terem recebido a vacina oral contra a poliomielite. Recomenda-se, por isso, que os imunodeprimidos e seus contactantes  sejam vacinados com a vacina inativada de potência aumentada contra a poliomielite (VIP). Se um contato domiciliar de pessoa portadora de imunodeficiência for inadvertidamente vacinado com a vacina oral, deve-se evitar o contato físico com o indivíduo imunodeficiente por, pelo menos, 4 a 6 semanas (período máximo de excreção viral).
No Brasil e em países onde são realizadas as campanhas anuais de vacinação contra a poliomielite é praticamente impossível evitar o contato com indivíduos recentemente vacinados com a vacina oral. Assim sendo, recomenda-se redobrar os cuidados com as medidas de higiene, para evitar que os imunodeprimidos entrem em contato com pessoas que receberam a vacina Sabin.





Sabin e a vacina oral­
­A vacina oral contra a poliomielite foi criada por Albert Bruce Sabin, médico e microbiologista polonês naturalizado americano. Sabin foi o primeiro pesquisador a demonstrar o crescimento do poliovírus no tecido n­ervoso humano fora do corpo. Foi ele que, em 1939, invalidou a teoria de que o poliovírus entra no corpo pelo nariz e pelo sistema respiratório, demonstrando que a poliomielite humana é uma infecção do trato digestivo.
Sabin defendia que o vírus enfraquecido e vivo da polio, ­administrado oralmente, daria imunidade por um longo período de tempo. Em 1957, ele isolou cadeias atenuadas de cada um dos três tipos do poliovírus (não eram fortes o bastante para produzir a doença, mas eram capazes de estimular a produção de anticorpos), e começou os experimentos com a administração oral dessas correntes atenuadas.
Os testes humanos com a vacina oral foram feitos com a cooperação de cientistas no México, na Holanda e na União Soviética e, após ficar provada a eficácia da vacina oral contra a polio, três anos depois ela foi aprovada nos EUA como a principal defesa mundial contra a doença.
Fonte: Enciclopédia Britannica

O poliomielite no mundo

A Organização Mundial da Saúde resolveu erradicar a poliomielite na segunda metade do século 20 e isso teve um impacto dramático sobre a incidência da doença. A poliomielite foi erradicada das Américas (1994), da região Ocidental do Pacífico (2000) e da Europa (2002). Entretanto, persistiram focos na África e no Sudeste Asiático.





Vacinação contra a polio na África
Organização Mundial da Saúde/Divulgação
Vacinação em massa promovida pela Organização Mundial da Saúde para erradicar a doença; focos ainda persistem em países africanos
No início de 2005, o número de casos notificados da doença tinha diminuído em 99%, com somente seis países mantendo casos endêmicos de poliomielite pelo vírus selvagem: Nigéria e Índia com o maior número de casos, seguidos por Paquistão, Niger, Afganistão e Egito com um número pequeno de casos.
No período de 2002-2003, a Índia apresentou 1.517 casos, seguida pela Nigéria com 180 casos. A Índia instituiu uma ampla campanha de vacinação com auxílio de voluntários,  reduzindo a 224 casos ao final de 2003, 134 em 2004 e somente 15 em 2005. Entretanto, na Nigéria, vários líderes religiosos acusaram a vacina contra a pólio de causar infertilidade e transmitir o vírus da aids, o que levou a um retrocesso nas campanhas. Isso levou a um grande aumento do número de casos com exportação do vírus para 18 países. Atualmente o número de casos de pólio por vírus importado é superior ao número de casos de países onde a pólio é endêmica.
Para deter os casos importados de poliomielite em países que já tinham erradicado a doença, tanto a África quanto a Ásia realizaram grandes campanhas de vacinação com a imunização de 375 milhões de crianças em 45 países. Em 2005, a importação de casos da Arábia Saudita e do Sudão (países com baixa cobertura vacinal) levou a uma importante epidemia na Indonésia que estava há dez anos sem casos de poliomielite por vírus selvagem.
Esses problemas mostraram a importância de se manter uma alta cobertura vacinal mesmo que a doença tenha sido erradicada do país, o que impede a importação de novos casos de países que ainda persistem com a doença. Além da Indonésia, o Iêmen também apresentou vários casos importados, com a instalação de vários dias nacionais de vacinação para conter a doença. O país com maior número de casos continua sendo a Nigéria.
Número de casos de poliomielite por país (2005)
Número mundial de casos 1469
Nigéria (endêmica) 544
Iêmen (importação) 473
Indonésia (importação) 283
Índia (endêmica) 45
Somália (importação) 37
Sudão (re-estabelicida a transmissão) 26
Paquistão (endêmica) 19
Etiópia (importação) 17
Angola (importação) 9
Níger (endêmica) 5
Afeganistão (endêmica) 4
Mali (importação) 3
Chade (re-estabelecida a transmissão) 1
República dos Camarões (importação) 1
Eritréia (importação) 1
Nepal (importação) 1
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Os riscos da vacina contra a poliomielite

­Um­ estudo no Brasil usando dados das fichas de investigação de notificações de paralisias flácidas agudas do Ministério da Saúde do Brasil analisou os casos de poliomielite pós-vacina no período de 1995-2001. ­
Foram considerados como casos os indivíduos com diagnóstico de paralisia flácida aguda com isolamento de vírus vacinal nas amostras de fezes ou seqüela compatível com poliomielite até 60 dias após o início da deficiência motora e os indivíduos em qualquer faixa etária que mantiveram contato com indivíduos vacinados entre 4 e 40 dias antes do início da doença e que desenvolveram deficiência motora entre 4 e 85 dias após esse contato.
Registraram-se dez casos de pólio pós-vacinal no período. A média de idade dos casos foi de 4,7 meses. Quatro casos foram associados à primeira dose da vacina, quatro casos foram associados à segunda dose da vacina e dois casos foram atribuídos a contato com outras pessoas.
Os sorotipos vacinais isolados foram o tipo 1 (dois casos), o tipo 2 (um caso) e o tipo 3 (três casos). Em quatro dos casos, foram isolados mais de um sorotipo do vírus. O risco observado para poliomielite associada ao vírus vacinal durante o período foi de 1:5,11 milhões de primeiras doses e de 1:10,67 milhões para o total de doses.
Mesmo sendo um número muito pequeno há risco de contrair a doença pós utilização da vacina com virus atenuado.

direitos autorais de pesquisa:
Isabela Benseñor & Associados